Foto: Victória Renata
Fontoura Benemann
Um estudo realizado no período de 2022 a 2024 trouxe boas notícias sobre uma das espécies que se reproduz no arquipélago de Moleques do Sul, o qual integra o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro (Paest). Pesquisadores vinculados ao Laboratório de Ornitologia e Animais Marinhos da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) estudaram a ecologia do atobá-pardo (Sula leucogaster). As pesquisas científicas nas Unidades de Conservação (UCs) estaduais são incentivadas, autorizadas e acompanhadas pelo Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA).
O objetivo do estudo foi investigar o comportamento
de procura de alimento da espécie no seu habitat, que tecnicamente é chamado de
forrageio, e sua interação com a atividade pesqueira na região, em especial com
a pesca de arrasto do camarão. Conforme explica a professora doutora Maria
Virginia Petry, que orientou o trabalho, 19 aves reprodutoras foram rastreadas
com dispositivos de Sistema de Posicionamento Global (GPS) e sensores de
profundidade no mês de setembro de 2022.
Os dados foram utilizados para determinar as áreas
de alimentação e a sobreposição espacial dessas áreas com as de atividade
pesqueira. “Por meio dos sensores de profundidade foi possível determinar o
comportamento de forrageio, com o principal objetivo de investigar se as aves
estariam se alimentando naturalmente, através de mergulhos predatórios, ou se
beneficiando dos descartes da pesca, muito comuns na pesca de arrasto”, afirma
a pesquisadora.
Resultados
Maria Petry conta que, ao contrário do que se
previa com base na literatura científica existente, os atobás-pardos de
Moleques do Sul não foram significativamente influenciados pela pesca. “Eles se
alimentaram, principalmente, em áreas onde essa atividade não foi tão intensa
no período (no mês de setembro, especificamente), e realizaram mergulhos de até
30 metros de profundidade em busca de suas presas”, explica.
Esse comportamento é natural e indica que os
animais não mudaram sua forma de se alimentar a partir dos descartes da pesca,
que são recolhidos próximos da superfície. A pesquisadora afirma que os dados
são inéditos para a espécie na região e contribuem significativamente para o conhecimento
da ecologia dos atobás e sua interação com as atividades humanas (antrópicas).
Os resultados da pesquisa foram apresentados na tese de doutorado “Ecologia do forrageio e quantificação de mercúrio no atobá-pardo Sula leucogaster (Boddaert, 1783) em dois arquipélagos brasileiros”, de autoria da doutora Victória Renata Fontoura Benemann, defendida em dezembro de 2024.